Cheguei em casa e me deparei com aquela apostila de história da 7ª série. Era de uma amiga que queria que eu a ajudasse em um trabalho.
Grande foi meu espanto quando comecei a ver as atividades que ela tinha feito e que, sem duvida nenhuma, me surpreenderam de tal forma, que eu me envolvi entre medo e riso.
Por um instante não acreditei, ou melhor, não quis acreditar no que acabaram de ler. Eram 2 respostas às perguntas que a apostila fazia. Mas vale ressaltar que as perguntas eram simples, mas as respostas foram surpreendentes.

Quem é o prefeito de sua cidade? Quais suas funções?

Se a minha amiga gastou forças para responder eu não sei, só sei que estou gastando muitas para reescrever o que ela respondeu:
-Kassab, tem o dever de intervir no poder esecatevo nas nunerpalidades.

Neste momento eu ri, dava pena, mas era engraçado. Em seguida fui para outra pergunta, quase igual:
Quem é o presidente da Republica? Quais suas funções?
Foi neste momento que eu vi a gravidade da situação. E com um súbito temor li a resposta:
-Hinasío Sula da Sula, que dirige o tralho de uma asembléia ou compoção liberatia.

Como eu já disse, foi difícil acreditar no que acabara de ler. É uma vergonha ver que uma pessoa na 7ª série escreve desse jeito.
Fiquei imaginando que coisas piores do que essa podem estar acontecendo por ai, não longe de nós.
E este é o nosso Brasil. Brasil que se preocupa com o ranking de poder e crescimento, mas detém para si uma catástrofe interna.
Onde as pessoas estão se preocupando com supérfluos, onde o capitalismo governa, onde quase tudo é aparência e uma das realidades é a deterioração do ensino.
Mas isto é uma conseqüência do que vêm acontecendo há anos, e também a causa que vai gerar ainda muitas outras.
Talvez o mundo fosse menos desigual se as pessoas dessem valor às pequenas coisas.
“Um homem descuidado com seu martelo nunca construirá um palácio”.

E bem sabemos que a base para a vida é a educação, mas esta não sai da marolinha.
Mas pensando bem, eu venho a concordar com minha amiga. E enquanto Kassab inverte no poder, o senhor Hinasío dirige os tralhos que sobram da sociedade.

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Dia desses quando voltava de Santo Amaro, percebi quando uma mulher de aparentemente 25 anos passou por baixo da catraca e falou algumas coisas com o cobrador; este seria um fato normal se a mulher não fosse extremamente magra, e portasse um pequeno shorts de 5 ou 6 cm, combinando com uma blusinha cuja aparência e função eram confundidos com o de um sutiã.
Instantes depois ela retirou alguns papéis do bolso e começou a distribuí-los aos passageiros. Como previsto, alguns nem a olhavam, outros a mediam da cabeça aos pés; eu continuava alí, sentado, observando, aguardando a minha vez.
Com a aproximação da moça, pude conferir seu olhar melancólico e sua postura decadente, sua moral extinta, e seus pensamentos sufocantes; seu olhar era de tristeza, dor, talvez ódio, raiva ou amor, não consegui decifrar perfeitamente, mas tive uma boa precisão, aliás, todos esses sentimentos possuem algo em comum: a miséria da alma.
Ela me estendeu a mão oferecendo-me um papel quadrado, tinha um olhar baixo e fixo, peguei do papel e li algumas palavras escritas à mão:

"SOU PORTADORA DE HIV E POR PRECONCEITO FAMILIAR ESTOU MORANDO NAS RUAS, SE VOCÊ QUISER ME AJUDAR COM ROUPAS, COMIDA, TICKET, DINHEIRO, EU AGRADEÇO, DEUS ABENÇÕE."

Depois da surpresa, a procurei com os olhos, mas não a avistei, pensei que já tinha ido embora, quando ela reapareceu recolhendo os papéis, desta vez ela agia mais rápido, veloz, como a um gato no canil, parecia fugir, esconder-se, estendia os dedos e pegava da folha; agora já todos a olhavam, julgavam-a cada um a seu modo, quem sabe um ou outro sentia compaixão, piedade, pena, mas mesmo assim mantinha o olhar prepotente.
No primeiro ponto ela desceu, sumiu em questão de segundos. A senhora ao meu lado olhou-me com olhar de indignação, mas não disse nada; soaram alguns comentários, coisa pouca, nestas horas todos julgam e se calam, particularidade do ser humano.

Eu vim pensando no caminho, não consegui esquecer tal acontecimento. Talvez nesta hora você esteja formando sua opinião sobre a moça aidética ou se acha muito importante para não dar importãncia ao assunto.

O fato é que ela errou, está sofrendo as consequências naturais, e ainda foi abandonada pela família. Isso me faz refletir sobre como a raça humana é hipócrita: Para a grande maioria, pessoas com este tipo de problema deixam de ser "gente" e se tornam uma "aberração".  A história dela eu não sei, mas tenho certeza que ela não gostaria de estar alí, se expondo em troca de nada, acho que ela ainda tem esperança de que neste mundo há compreensão, mas se tivesse a oportunidade, diria a ela que só Deus a pode resgatar, isso por que não somos suficientemente capacitados para ajudar quem errou.

Talvez ela morra, talvez sobreviva por mais alguns anos, mas a verdade é que em pleno século 21, alguns erros são fatais...

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